Muito se tem escrito e falado sobre a epidemia de COVID-19. Apesar de muitos artigos publicados serem estudos sem grupo de controlo, critérios dispares de inclusão, conclusões nem sempre comparáveis, as meta-análises sugerem que a prevalência de perda de audição, zumbido e vertigem na infeção por COVID-19 varia entre 7 e 14%.

O atingimento do sistema audiovestibular pode resultar do efeito direto do vírus nas células, da resposta inflamatória generalizada, dos eventos cerebrovasculares, em especial pelo compromisso da circulação posterior e mesmo do uso de medicamentos para tratamento das complicações associadas à infeção e que são potencialmente tóxicos. O papel do stress mental e emocional não deve de todo ser descurado neste contexto.

A título pessoal posso confirmar que tenho acompanhado doentes, que pós infeção relataram episódio de vertigem rotatória aguda com duração de horas e desequilíbrio posterior, outros que pós saírem dos cuidados intensivos referiram instabilidade e perturbação com os movimentos de cabeça persistentes. Depois da toma da vacina consultei pacientes que referiram tonturas, sensação de flutuação e andar em cima de algodão, durante dias a meses. Os exames revelaram, com frequência, défices vestibulares não compensados e noutros apenas assimetrias no funcionamento vestibular. Em todos eles, a reabilitação vestibular teve um papel relevante na recuperação.

Os zumbidos preexistentes e exacerbados ou que surgiram de novo no contexto da pandemia levaram um número elevado de doentes a procurar ajuda.

Assim, quero chamar a atenção que a vertigem nos doentes COVID-19 não é irrelevante, e em conjunto com as outras manifestações audiovestibulares como o zumbido e a perda de audição devem ser investigadas. A consulta de Otoneurologia é mandatória com o objetivo de um diagnóstico e orientação terapêutica o mais precoce possível.